sábado, 28 de fevereiro de 2009

Sobre a história de Orfeu...

Trazemos aqui um pouco mais sobre a história de Orfeu, filme que trouxemos um trecho do filme de Marcel Camus em postagem anterior. Para essa postagem feita a várias mãos contamos com várias contribuições.
Orfeu, um excelente músico, amava Eurídice. O cantador e poeta Orfeu perde sua amada Eurídice e vai buscá-la no mundo dos mortos (Hades), contrariando todas as leis divinas. Nenhum vivo poderia entrar no mundo dos mortos! Mas, Orfeu inspirado pelo amor, toca sua lira que encanta a todos, mas jamais esquece Eurídice. O guardião do portão de Hades, encantado com sua música, dorme com a música de Orfeu. A mais bonita de todas as canções, Orfeu cantou para Hades, que o convenceu a deixar Orfeu levar Eurídice de volta. Para Orfeu sair do mundo dos mortos levando sua amada, Hades, porém, impôs uma condição: que Orfeu não olhasse para trás. O que vocês imaginam que aconteceu?
As autoras Thaïs Flores Nogueira Diniz e Karyna Gonzaga, em publicação quando eram pesquisadoras da Universidade Federal De Ouro Preto, trazem mais informações para complementar essa história. Comentam que Orfeu tocava a lira com tanta perfeição que os animais ferozes e os pássaros se agrupavam em torno dele, enquanto seus acordes atraíam árvores e rochedos e suspendiam o curso dos rios. Orfeu casou-se com Eurídice e ambos se amavam. Com sua morte Orfeu torna-se inconsolável. Algum tempo depois, resolve arrancá-la da morte e se dirige ao inferno. Por causa da magia de sua lira, Cérbero o cão de guarda do inferno se cala e as Fúrias recolhem as serpentes com que atormentavam os criminosos. Todos se deixam comover e estabelecesse uma condição: libertaria Eurídice do reino dos mortos, porém Orfeu, que a conduziria, não poderia voltar a cabeça para olhá-la. O esposo inicia sua jornada para o reino dos vivos, com a sombra de Eurídice a segui-lo. As trevas já começavam a se dissipar quando Orfeu, esquecido do que lhe fora imposto, volta-se. Nesse momento, o infeliz perde sua amada para sempre. As Musas sepultaram os despojos de Orfeu ao pé do Monte Olimpo e sua lira, transportada aos céus, transformou-se numa constelação.
Autores: Adriana Hoffmann, Giancarlo e Silvia Kotz.
Fonte: Diniz, Thaïs Flores Nogueira e Gonzaga, Karyna. Orfeu do Carnaval ou Brasil do Carnaval? Disponível em http://www.thais-flores.pro.br/artigos Acesso em fevereiro de 2008

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Orfeu - uma história de Carnaval...

Trazemos nesse vídeo a história de Orfeu Negro - parte 1
O filme de 1959 do diretor Marcel Camus transporta para a favela o mito grego de Orfeu e Eurídice com base na peça de Vinicius de Moraes "Orfeu da Conceição".
O que este trecho os fez pensar? Vocês sabem de que trata o mito de Orfeu? A que se refere? Em breve traremos mais detalhes se vocês, leitores, assim desejarem.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Já é Carnaval... música também é leitura...

As músicas também contam histórias, provocam leituras, trazem lembranças... Quem não tem uma boa música relacionada a situações da vida?? Para esse período de festas trazemos uma música "Folião pra danar" de Marcelo Torca dentro do Festival de Músicas de Carnaval... Entrem no link abaixo e ouçam.
http://www.marcelotorca.com/audio.php?cod=18991
Que músicas lembram boas situações vividas no Carnaval? Tragam as suas músicas favoritas! Comentem!

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Leitura de texto e leitura de imagem

Compartilhamos aqui textos e também vídeos e imagens como parte de nossa leitura formadora. Trazemos nesse momento o texto da autora, escritora e ilustradora de livros para crianças e jovens, refletindo sobre esses contextos de leitura. Vejam o que ela pensa, leiam e opinem!!
Eva Furnari
Costumamos usar a palavra leitura significando leitura de texto. Uma leitura que requer decifrar signos, letras, sinais convencionados, que nos remetem ao universo da linguagem oral. Ler um texto é ler o registro de nossa comunicação verbal, no qual as palavras contam os significados.
Essa é uma maneira de ler o mundo. Uma maneira importante, que traz informação, troca, que alarga horizontes e permite a constante ampliação dos níveis de conciência humana.
Podemos, também, usar a palavra leitura em um sentido menos comum, significando leitura visual. Essa é uma outra maneira de ler o mundo, não decifrando letras, mas decifrando imagens. Imagens que preenchem nossos olhos do momento em que acordamos até a hora de dormir. São paisagens da cidade, do campo, das ruas, das casas, por dentro, por fora, dos outdoors, dos livros, revistas, TVs. Paisagens cheias de objetos e sujeitos.
Com o olhar, a gente pode, por exemplo, ler um objeto que esteja na paisagem, digamos, um carro. Ao vê-lo, sabemos se é antigo, moderno, esporte ou clássico, se nos agrada ou não e assim por diante.
A gente também pode ler e decifrar um sujeito passando na rua. Digamos que, só de olhar, a gente vê se é jovem, velho, pobre, rico e pode até perceber seu estado de humor; deprimido, emburrado, bem disposto, de bem com a vida. Lemos sujeitos o dia todo, a todo momento. Quem é que, ao se relacionar com uma pessoa, não envia e recebe mensagens para serem entendidas pelos olhos? São caras e bocas sem legenda, que vão fazendo pedidos, convites, dando comandos, fazendo intimações e outras coisas assim. Isso é ler imagem. Essa leitura visual do mundo nos é tão íntima e familiar, que muitas vezes não nos damos conta do quanto ela é presente em nossa vida.
Captamos uma quantidade enorme de informações por essa via, muito maior do que costumamos supor. É todo um sistema de comunicação que se processa pela imagem, e que é, em parte, inconsciente e, é interessante notar que, mesmo sendo inconsciente, somos capazes de usá-lo com perícia.
É como se houvesse uma leitura silenciosa, às vezes vaga, outras vezes precisa, feita não por nosso lado racional, mas por nossas sensações e emoções.
Lembrete: esse texto não acabou... Continuem lendo o restante do texto no link abaixo.
Fonte: http://www.tvebrasil.com.br/salto/boletins2002/lii/liitxt4.htm Acesso em outubro de 2008

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Uma história (re) contada

Encontrei esse vídeo na internet (cujo título traduzido é "O Animador") e achei bastante sugestivo no quesito "narrativa", reportando-se ao valor da memória e nossa história de vida. Muito divertido e reflexivo, vale a pena ver. Comentem assim que o virem! (Giancarlo)
Retificação: Essa animação não é do Animamundi como divulgado mas, mesmo assim, é muito boa!

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Documentário Histórias

Primeira iniciativa do gênero no Brasil, documentário “Histórias” reúne especialistas de diversas regiões do Brasil e do mundo para mostrar o poder da oralidade na formação do ser humano, tendo como cenário a cidade do Rio de Janeiro.
As culturas e tradições que povoam a humanidade e ganharam forma graças a oralidade servem de ponto de partida para “Histórias” documentário brasileiro que traça um inédito painel sobre o ato e a importância de contar histórias para o ser humano.
Produzido em 2005, com direção de Paulo Siqueira (diretor, autor, atualmente é diretor artístico da Ópera Prima Produções), roteiro de Marcio Allemand (roteirista, jornalista e produtor) e produção executiva de Benita Prieto (atriz, produtora cultural, especialista em literatura infanto-juvenil e contadora de histórias do Grupo Morandubetá), “Histórias” trata de culturas e tradições diversas desde antes do homem falar, quando se expressava pelas pinturas e danças; culturas orais, escritas, até a atualidade, onde as várias mídias disponíveis oferecem novas possibilidades para as histórias, os contadores e seu impacto sobre a humanidade.
Segundo Benita Prieto “o documentário reúne depoimentos de contadores de histórias de diferentes regiões do Brasil, Espanha, Camarões e Ghana, que são o fio condutor da história. Cada artista fala sobre a tradição dos contadores de histórias em seu país de origem. Contam histórias originais... causos, curiosidades... que vão sendo costurados ao longo do documentário, mostrando a universalidade da oralidade e do ato de contar histórias”.
O filme começa discutindo a possibilidade de um mundo sem histórias, o que é impossível, por isso nesse momento só há sons e não há imagens. “Em nossa concepção cinematográfica, esse mundo não existe. Conduzimos o espectador por uma viagem de descobertas: antes mesmo da capacidade humana de falar, o homem contava histórias através das pinturas ruprestes, das danças... O filme então entra na cultura oral. Nesta há mais poesia, as pessoas não são tão racionalistas, há mais integração, compartilhamento, as histórias funcionam como ferramenta de educação, de socialização, de explicação do mundo e etc” explica Paulo Siqueira. (...)
“Histórias” é uma importante contribuição para a valorização e entendimento da arte de contar histórias como elemento essencial na construção do mundo.
Fonte do texto: http://www.target.inf.br/

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

O melhor contador de histórias

E como nesse período estamos falando de histórias que nos marcam e dos que contam histórias, aí vai uma história muito boa...

ERA UMA VEZ.... um rei. Não era um rei feliz. Ele notou que seus súditos não prestavam atenção a menor atenção em seus decretos e mandatos. Percebeu também que eles se aglomeravam e se sentavam aos pés dos contadores de histórias na praça do mercado, nas casas de chá ou nas pousadas.

O rei decidiu aprender o segredo dos contadores de histórias. Convidou-os ao palácio com essa finalidade. Alguns disseram que era a sua linguagem, outros que era a experiência, outros, ainda, que era a imaginação.

Cansado de ouvir tantas opiniões, o rei despediu-se deles pedindo que se dedicassem a escrever artigos sobre as qualidades de um bom contador de histórias.

Os contadores voltaram após cinco anos com milhares de papéis escritos. Mas, de novo, o rei ordenou que voltassem com uma informação condensada de tudo aquilo. Cinco anos se passaram quando voltaram trazendo um livro bastante pesado. O rei não tinha tempo para ler, pois estava muito ocupado com as questões políticas do reino. Pediu-lhes, então, que fizessem um resumo de uma página com o essencial daquelas informações.

Os contadores passaram mais cinco anos trabalhando na essência do assunto. Finalmente, apareceram com uma folha de papel e entregaram-na ao rei.

O rei pensava que, de posse desse conhecimento, poderia tornar-se o único contador do reino. Aqueles eram seus rivais, obviamente. Mesmo tendo trazido seu precioso conhecimento sobre como se tornar o melhor contador, ainda assim eles seriam competidores, e o rei queria ser o melhor deles. Inevitavelmente, se o rei se livrasse de todos eles, não haveria como não se tornar o único e o melhor contador do reino.

Assim, o rei anunciou que iria agradecer pessoalmente a um por um o trabalho. Afinal, anos de dedicação haviam tornado possível aquele projeto.

Assim foi feito: ele recebia cada um, oferecia-lhe um premio e apontava a porta de saída. Do outro lado, porém, encontrava-se o carrasco esperando para executar o pobre infeliz, mandando-o para o outro mundo.

Depois que o rei finalmente ficou sozinho, com suas mãos tremulas, abriu o papel preparado para ele. Lá estava escrita somente uma frase:

“ O melhor contador de histórias é aquele cujas histórias são lembradas muitos e muitos anos depois que seu próprio nome tenha sido esquecido.”

E vocês, lembram de alguma história dessas inesquecíveis?

Fonte: Matos, Gislaine e Sorsy, Inno.O ofício do contador de histórias: perguntas e respostas, exercícios práticos e um repertório para encantar. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

E lá vem uma história...

É com essa chamada que trazemos uma história contada por Clara Haddad,famosa contadora de histórias. Muito boa de se ouvir e muito boa para percebermos o que fazemos da vida... Entrem no endereço e divirtam-se!!
A história do homem sem sorte do site Roda de histórias.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Histórias da infância distante por Gilka Girardello

A cena da avó na cadeira de balanço contando antigas histórias para os netinhos é coisa do passado nas grandes cidades de hoje - afinal, mudaram as famílias e mudaram as avós. Mas podemos tomar essa imagem de um jeito mais simbólico, mais arquetípico, referindo-se a todos os adultos que contam coisas de sua infância para as crianças. E aí a cena poderá virar fonte de energia e de inspiração para o trabalho dos contadores de história de hoje.
Um poeta e pedagogo russo, Kornei Chukovski, disse há quase cem anos que tendemos a contar às nossas crianças as histórias, poemas e cantigas que mais nos tocaram quando nós próprios éramos crianças. E que só nos ficaram na memória aquelas que tinham algo de especial, engenhoso ou profundo. Assim, diz Chukovski, no fim das contas quem escolhe as histórias para as crianças de hoje são as crianças de ontem! Como numa corrida de revezamento, a criança de uma geração recebe uma tocha e atravessa a vida carregando-a acesa na profundeza da memória para entregá-la à criança que espera ansiosa na próxima curva do percurso.
Se isso vale para as histórias e cantigas que ouvimos quando crianças, vale também para as narrativas de nossas pequenas e grandes aventuras cotidianas. Muitas vezes meu pai nos contou – a mim e aos meus irmãos - da primeira noite em que a luz elétrica iluminou sua cidadezinha natal, no interior do Rio Grande do Sul, quando ele tinha uns cinco anos de idade. “Me lembro como se fosse ontem”, dizia, e os olhos dele se iluminavam como as ruas e a praça onde em 1925 o povo boquiaberto se maravilhara com a chegada do futuro.
Aos poucos também as histórias que a gente viveu vão ficando antigas – dependendo de quem ouve e por mais que o fato nos pegue de surpresa - e com sorte vão ganhando um discreto charme por conta disso. Lembro do assombro incrédulo na cara de meus filhos quando lhes contei do dia em que a televisão – em preto-e-branco! - chegou na nossa cidade, a Porto Alegre da década de 60. Era um assombro parecido com o que eu devia mostrar a meu pai quando ouvia as suas histórias de menino.
Os casos que lembramos de nossa própria infância são aqueles que mais impressionaram a menina ou o menino que fomos, ainda que nem sempre saibamos por quê. Frequentemente esses casos têm a ver com coisas que vimos pela primeira vez, não só novidades tecnológicas como a lâmpada elétrica ou a televisão, mas todo o contato com o novo. Quem não tem uma história de família sobre a primeira vez em que uma criança viu o mar? A primeira viagem de avião ou de barco, o primeiro encontro com um grande animal (seja o cavalo no pasto ou o leão no circo), a primeira vez em que quebramos um braço ou em que nos perdemos na multidão: a primeira vez a gente não esquece mesmo, porque a imaginação infantil se nutre de coisas novas. (...)
Outro caso exemplar é o que Army Capanema, uma narradora de Florianópolis hoje com quase 80 anos, costuma contar: ela era menina e brincava com o irmão no armazém de secos-e-molhados de seu pai quando caiu dentro do poço onde era guardado o feijão a granel. Ouvi-a contar esse caso mais de uma vez e ouviria muitas mais, tão saborosa é sua performance. Army conta que o armazém vendia de tudo e era o ponto de encontro da região: “como um shopping”, ela explica. E segue, pontuando seu relato com comentários coloridos e divertidos, com a autoridade de quem é dona daquela história. Em sua voz, ressurge à nossa frente a menina moleca e arteira que ela foi, e que de certo modo continua sendo – ou não nos faria rir tanto com sua pequena desventura.
Graciliano Ramos, Sartre, Walter Benjamin e tantos outros escreveram livros inteiros dedicados às lembranças longínquas de seus primeiros anos; são relatos às vezes cheios de névoa, outras vezes surpreendentemente precisos. E García Márquez chegou a dizer que nada de interessante lhe aconteceu após os oito anos de idade, nascendo das suas lembranças de infância todo o poder gerador de sua obra. O olhar da criança agiganta e enche de significado os pequenos detalhes do cotidiano, como o torneado de um móvel, o pregão de um vendedor, os rituais familiares.
Quando o olhar enfeitiçado da criança se depara com incidentes que são marcantes também para os adultos, então o efeito se intensifica. Vem daí a vividez das imagens que guardamos dos grandes acontecimentos históricos que vivemos, ainda que de longe ou pela televisão. Essa nitidez está por trás do jogo narrativo que começa com a pergunta: “onde você estava quando.....? Gente da minha geração lembra, por exemplo, o golpe de 64 ou a chegada do homem à lua, que aconteceram quando éramos crianças. Outros perguntam o que os amigos estavam fazendo quando souberam da morte de Ayrton Senna, dos Mamonas Assassinas, ou da queda das torres de Nova York. A memória vai salvando aquelas cenas de nossa vida com as cores do mito, e isso passa para o relato oral, tornando-o especialmente valioso.
É clara a importância das pequenas anedotas de família – esses casos de nossa infância que contamos aos filhos e filhas, sobrinhos ou netos - no processo de identificação e auto-construção das crianças. Mas as histórias da infância dos indivíduos têm um papel que transcende a família: elas podem trazer coesão, significado e riqueza simbólica a comunidades inteiras. Que não tenhamos que esperar os cabelos brancos para compartilhar nossas mais divertidas, assombrosas e emocionadas histórias de infância. Mesmo crianças de oito anos podem sentir suas próprias primeiras lembranças misteriosas e distantes como fotos desbotadas, o que enche de encanto seus recontos. Quanto a quem já viveu muito, as memórias da infância podem estar tão tenras e frescas, que tornam-se apenas um jeito de contar não o que se foi um dia, mas o que se continua sendo.
Gilka Girardello é professora do Programa de Pós-Graduação em Educação e do Curso de Pedagogia da Universidade Federal de Santa Catarina. É Coordenadora do Núcleo Infância, Comunicação e Arte da UFSC, contadora de histórias e jornalista. Autorizou a publicação desse artigo que foi originalmente publicado no site cultura e infância.