sexta-feira, 20 de junho de 2008

AS LEMBRANÇAS NA DESCOBERTA DAS NOSSAS RELAÇÕES

O trabalho com a história oral envolve o reconhecimento da subjetividade, da individualidade construída na coletividade, ou seja, implica na reconstrução da história social através de micro-histórias. Assim, o trabalho com história de vida envolve a memória individual e coletiva, onde ao relatar sua trajetória de vida, o indivíduo expõe a memória do passado sob influência do presente em vista de um determinado futuro. Em decorrência desta relação entre presente e passado, tem-se a possibilidade de movimentação dos significados dados aos fatos lembrados, pois estes podem alterar-se de acordo com o momento em que estão sendo revisitados na memória.

Lembrar é “olhar com os olhos do presente os fatos passados”, é trazer à consciência muitos acontecimentos que estavam adormecidos, por terem produzidos sentimentos desconfortantes a quem os viveu, ou seja, implica contar e omitir (intencionalmente ou não) acontecimentos. Rememorar é expor-se enquanto sujeito social, que influencia e sofre influências culturais, políticas e econômicas. Dessa forma, a memória individual dialoga com o coletivo.

A memória é um processo individual, que ocorre em um meio social dinâmico, valendo-se de instrumentos socialmente criados e compartilhados. Em vista disso, as recordações podem ser semelhantes, contraditórias ou sobrepostas. Porém, em hipótese alguma, as lembranças de duas pessoas são – assim, como impressões digitais, ou a bem da verdade, como as vozes – exatamente iguais (PORTELLI, 1997: 16).

A convivência entre indivíduos, reconhecidos e respeitados como únicos, faz com que a realidade no trabalho com a história oral seja representada “não tanto como um tabuleiro, mas como um mosaico ou colcha de retalhos, em que os pedaços são diferentes, porém formam um todo coerente depois de reunidos...” (PORTELLI, 1997:16). Trabalhar com a memória, reconstruída através das histórias de vida, é dar voz àqueles que vivenciam a diversidade sócio-cultural, valorizando seus saberes, respeitando o valor e a importância de cada indivíduo, enfim, reconhecendo que todas as pessoas com quem conversamos enriquecem nossa experiência.

Parte do texto: “O Corpo no Imaginário Docente”, de Ana Paula Barrozo Stefano Dal Molin e Valeska Fortes de Oliveira.

A vivência com a leitura se torna experiência a partir do momento em que o leitor compartilha e dialoga com o próprio texto ou com outras pessoas os conhecimentos nele contidos.

Contudo, com os avanços tecnológicos o número de informações acessíveis é muito grande, diminuindo a qualidade da informação e, conseqüentemente, da leitura. A falta de tempo faz com que o homem moderno leia menos e de forma fragmentada. Apesar do individualismo que, atualmente, permeia a nossa sociedade, as pessoas sentem necessidade de manter um contato próximo com o outro e, no caso da leitura, com o material impresso. Por isso, dificilmente o jornal, a carta e os livros irão desaparecer.

Compreende-se que para enriquecer a leitura é interessante que o leitor dialogue com a coletividade gerando reflexões que influenciem, social e culturalmente, esses sujeitos, de forma que a vivência individual contribua para a construção da identidade coletiva. Nessa perspectiva entende-se que os meios de comunicação precisam ser utilizados de forma a contribuir na qualidade da informação que gere conhecimentos articulada à necessidade das pessoas se formarem bons leitores.

Texto Produzido por: Priscila Soares.

domingo, 15 de junho de 2008

Tudo é Uma Coisa Só

Tudo é uma coisa só
Tem hora que a gente se pergunta:
Por que é que não se junta tudo numa coisa só?
Boneca, panela, chinelo, carro, moto
Você aparece de repente e coloca em minha frente
A dúvida maior:
Se tudo que eu preciso se parece
Por que é que não se junta tudo numa coisa só?
Balaio
Domingo eu não saio
De bambu e corda
Só se for pra rezar
Luz No cabelo e nos olhos
No sorriso do justo
Feito para iluminar
Cruz Na parede e no púlpito
Nas nossas costas de súbito
Pesadas pra se carregar
Porta Abre e fecha o caminho
O balaio eu carrego sozinho
Ilumino essa cruz com meu jogo de andar...”
Trecho da música “Tudo é uma coisa só”, do grupo O Teatro Mágico, composição por Fernando Anitelli.
Será que é mesmo preciso juntar tudo numa coisa só? Ou o nosso olhar pode ser modificado para que percebamos detalhes tão semelhantes em coisas antes tão distintas aos nossos olhos?
Educar o olhar é tornar-se sensível. A sensibilidade na leitura é essencial para reorganizar as partes, reunindo o todo. Aos poucos é possível perceber que quanto mais se responde as perguntas, mais dúvidas encontramos, e cada vez mais vivenciamos a sensação de uma imensidão de questões que se unem e se separam, em um movimento contínuo, de idas e vindas, sempre de relacionadas ao nosso momento, ao nosso olhar.
Educar o olhar é perceber através do texto. Cada texto em seu contexto por muitas vezes pode nos confundir. Ao lermos, relacionamos a informação com nossas experiências. Essa informação é encontrada além da leitura inicial. Está nos detalhes, nas entrelinhas que a sensibilidade nos permite sentir. As significações permeiam toda uma rede de convívio e experiências que possibilitaram o autor realizar o trabalho. É perceber o tudo, o conjunto, o processo de criação.
Tudo está junto numa coisa só. Nosso olhar mal educado é que encontra dificuldades em visualizar essa extensa rede de relações. Educar o olhar não é tarefa fácil, é preciso estar vivo, apresentar-se ativo. Agir, refletir, reagir. Recebendo e registrando a impressão das coisas. O olhar, assim, é construtivo, revitalizando nossa imaginação, dando-nos coragem para criar e testar diferentes idéias.
Paola Fávero

segunda-feira, 9 de junho de 2008

LEITURA... O que é leitura? O que é ler?

É um tipo de conhecimento? Conhecimento prévio e/ou construído no grupo? Relaciona-se com a experiência de cada um? É o resgate de uma experiência vivida? Ou é o desejo de uma experiência por viver? Como leitura e experiência podem se articular? Contando histórias e resignificando-as? Pode ser fragmentada ou global essa leitura? Pode acontecer por diferentes formas de ver, expressar-se? Precisa ou não do outro? Qual é o papel desse outro na leitura? Influenciar? Ser influenciado? Os dois? Leitura e mudança e pontos de vista... Por que essa relação? A leitura nos ajuda a fazer relações? Ou é nas relações que ela se constitui? O que a leitura tem a ver com a visão de mundo, afinal? E com a nossa história pessoal e social? Ler pode ser construir uma determinada história? Mas e, o conhecimento, o que tem a ver com essa história?
Na verdade, a leitura pode estar relacionada a todas estas questões, como tudo o que não podemos de imediato imaginar. A leitura é o próprio ato de ver, na sua concretude ou representado por meio da escrita, do som, da arte, dos cheiros. A leitura é uma experiência cotidiana e pessoal representativa para cada pessoa. Minha leitura é só minha, incapaz de ser a do outro... A convergência total neste ponto inexiste, e é aí que se encontra o grande encanto da leitura, recheada de tantos outros, mas tão única para um só.
Por meio da leitura e de nossa visão de mundo, conseguimos o domínio da palavra. Por meio da palavra, trocamos idéias e conhecimentos, sendo possível entender o mundo que nos cerca. Com o domínio da palavra nós nos transformamos e, ao nos transformar, nos é permitido construir um mundo melhor. Através de nossas histórias, é possível resgatar lembranças... Resgatando lembranças, voltamos no tempo. Ao voltarmos no tempo, entendemos as raízes que fazem parte da nossa cultura, essa cultura que nos foi dada como base para nossa formação de cidadãos críticos e conscientes dos nossos atos...
Nossas leituras nos fazem pensar sobre as verdades pessoais. Como se constroem? De que maneira sobrevivem? E até mesmo podemos pensar se existe a possibilidade de transformá-las.Percebemos a fragmentação como obstáculo considerável no processo de leitura. Somos seres integrados, capazes de relacionar idéias e isso nos torna capazes de operar transformações. Assim como é impossível separar corpo e mente, torna-se evidente a incoerência na segmentação do conhecimento. Nossa experiência nos permite avançar no conhecimento e, assim, amplia nossa visão de mundo. Nada está estático, nada é absoluto: as verdades se constroem e se reconstroem ao longo da vida. A verdade está dentro dos olhos de quem a vê, no coração de quem a sente e na mente que reflete sobre ela. Assim, tudo é uma coisa só.
Ler é estar conectado com a leitura do outro, é receber e enviar informações, é logar na realidade do outro, é entender que sem o outro o seu ponto de vista é só um ponto de vista.
Por tudo isso, é fundamental que o educador tenha sensibilidade para perceber as dificuldades dos educandos e intervenha de maneira satisfatória, levando-os à construção da leitura. Afinal, a vida é uma aventura e deve ser vivida intensamente
Apesar dos pesares. Aventurar-se causa ansiedade, mas deixar de arriscar-se é perder a si mesmo... E aventurar-se no sentido mais elevado é, precisamente, tomar consciência de si próprio. Kierkegaard
Ler é sonhar... Sonhar é viver... Viver é amar... Amar é querer... Querer é buscar.... Buscar é lembrar... Lembrar é simplesmente: sonhar, viver, amar, querer buscar o prazer que a boa leitura pode nos dar!
Autores: Célia Ribeiro, Valéria Coutinho, Paola Fávero, Jéferson Barbosa e Priscila Soares